Por que Você Deveria se Expor ao Desconforto
- Daniele Freitas
- 5 de jul. de 2023
- 4 min de leitura
Você já parou para pensar em como as consequências podem moldar nossas vidas? E você já parou para pensar o porquê se diz que crescemos e nos fortalecemos no desconforto? Bom, para explicar isso, trarei o conceito de reforço livre, que desempenha um papel crucial em nosso comportamento e desenvolvimento pessoal. Mas antes de mais nada, vamos descobrir o que é o reforço, a punição e a extinção, e como eles podem afetar nossa vida diária.
Na Análise do Comportamento, o reforço é uma das principais formas de consequências que influenciam nosso comportamento. Ele envolve a apresentação de algo, a grosso modo, que para nós é agradável ou a retirada de algo aversivo. Um exemplo simples é sentir sede, pegar um copo, colocar água e beber. Após saciar a sede (retirada de algo aversivo) a tendência é que realizemos o mesmo processo na próxima vez que sentirmos sede. Logo, dizemos que essa série de comportamentos foi reforçada. Um exemplo simples de reforço (adicionando algo agradável) é elogiar alguém por um trabalho bem-feito, o que aumenta a probabilidade de que a pessoa continue a se esforçar naquela tarefa.
Ao contrário do reforço, a punição envolve a apresentação de algo aversivo ou a retirada de algo agradável para diminuir a probabilidade de um comportamento. Por exemplo, se alguém é repreendido por chegar atrasado ao trabalho, a punição pode reduzir a probabilidade de que essa pessoa repita o comportamento no futuro. Outro exemplo comum, agora com a retirada de algo agradável, é retirar o videogame do filho após ele não ter feito a lição de casa.
Agora, a extinção ocorre quando um comportamento previamente reforçado deixa de ser seguido por um reforço. Isso resulta na diminuição da frequência desse comportamento, pois o indivíduo percebe que não está mais obtendo as consequências desejadas. Por exemplo, se você parar de dar atenção a um comportamento indesejado de uma criança, como chorar para ganhar um chocolate , essa ação pode eventualmente se extinguir se não for reforçada. Ou então, deixar de atender as ligações de um ex-namorado pode extinguir o comportamento dele continuar ligando.
Pois bem, agora que apresentamos os conceitos básicos, vamos falar do reforço, mais especificamente reforço livre. O ser humano foi selecionado para, de forma simples, buscar prazer e fugir da dor. Logo, nos exemplos acima podemos ver que o comportamento foi reforçado ao beber água (fugir do desconforto) e depois ao receber elogio (prazer).
Contudo, é preciso ter em mente que existe algo chamado Reforço Livre (Guilhardi, 2018), ou seja, a pessoa recebe uma gratificação sem que ela tenha feito algo para obtê-la. De acordo com Hélio Guilhardi, o reforço livre baseado apenas no prazer imediato pode nos tornar dependentes de reforços mediados por outras pessoas. Por exemplo, imagine um pai que dá um presente ou uma guloseima ao filho sem que haja uma relação direta com algum comportamento específico, como uma forma de agradá-lo ou evitar birras. Nesse caso, o reforço é fornecido de maneira livre, sem estar vinculado a um comportamento específico. Embora possa trazer prazer momentâneo à criança, essa prática pode levar a uma dependência de reforços mediados por outras pessoas, prejudicando o desenvolvimento de comportamentos produtivos e diminuindo a percepção de autoeficácia dessa criança.
Isso pode resultar em um déficit comportamental generalizado, no qual reduzimos nosso repertório de comportamentos produtivos e buscamos prioritariamente consequências prazerosas. Embora possa parecer um mundo incrível, na verdade diminui nossa autoestima, pode nos deixar apáticos e até mesmo insatisfeitos ou então, prejudicar nossas relações. Há um episódio interessante de uma série antiga chamada - Além da Imaginação (1960), cujo nome é , onde o protagonista, um ladrão, morre e vai parar em um lugar onde consegue tudo o que deseja. No início, ele acredita estar no céu e então, bom, deixarei para vocês assistirem.
Por outro lado, outra consequência do reforço pode ser o fortalecimento (Skinner Guilhardi, 2018), que envolve a ideia de que comportamentos que são reforçados estão diretamente relacionados aos resultados desejados. É através desse fortalecimento que desenvolvemos habilidades, competências e alcançamos nossos objetivos. Um bom exemplo é aprender a tocar um piano. Pode ser difícil e custoso, mas ao final, pode sair uma bela melodia. É a ideia de plantar para colher ou então, colocar a mão na massa. Acontece que vivemos em uma sociedade que muitas vezes busca apenas o prazer imediato. É como se estivéssemos em um episódio de Além da Imaginação, só que ao invés de Cassino, temos o celular.
É importante lembrar que o verdadeiro crescimento e desenvolvimento ocorrem quando nos desafiamos e nos expomos ao desconforto. Ao enfrentar situações desafiadoras, como aprender algo novo ou enfrentar desafios, fortalecemos nossas habilidades e autoconfiança. Assim como um músculo, nosso comportamento também precisa ser exercitado e fortalecido para encararmos a vida e obter maior probabilidade de sucesso nos nossos empreendimentos. É por isso que este tema tem estado tão em alta ultimamente. Estamos carentes de esforço.
Conclusão
Neste artigo, exploramos o conceito de reforço livre. Aprendemos sobre os diferentes tipos de consequências, como o reforço, a punição e a extinção, e como eles moldam nossos comportamentos. Reforçamos a importância de nos expormos ao desconforto como uma forma de fortalecer nossas habilidades e alcançar um crescimento pessoal significativo. Lembre-se, buscar o fortalecimento é um caminho desafiador, mas recompensador.
Guilhardi, Hélio J. (2018). Mais do bom não faz bem: Problemas do reforço livre . Revista Brasileira de Análise do Comportamento / Brazilian Journal of Behavior Analysis, 14(2), 171-190.
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